Para uns, ela age como um raio paralisador, que impede qualquer tipo de decisão. Para outros, é um combustível que espalha adrenalina e a vontade de superar os próprios medos e limites. Se essas duas visões parecem muitos radicais para você, indicamos a trilha do meio
por Patrícia Affonso
Não importa se você é alto ou baixo, gordo ou magro, se é chefe ou subordinado, rico ou pobre. Vez ou outra, até mesmo a mais corajosa e sábia das criaturas sente-se acuada e gostaria (se o orgulho permitisse) de pedir colo e só sair dele quando aquele medo resolvesse ir embora, para assombrar outras bandas.
Nisso todo mundo é igual: ninguém está imune à insegurança. Afinal, no mundo em que vivemos nada é permanente. Perceba que é exatamente quando nos sentimos absolutamente certos de algo que o destino, com um toque de cinismo e traquinagem, muda todo o rumo das coisas. "E agora, para onde vou?". "O que faço para resolver isso?".
"Qual é a melhor saída?". Surge um cem número de perguntas. As respostas, por sua vez, parecem ter se escondido. E é dessas dúvidas que se alimenta o monstrinho da insegurança. Acontece que, se nos deixamos abater e não to- mamos as rédeas da situação, ele cresce, cresce, cresce e nós, de tão assustados, vamos ficando pequenininhos, indefesos, inativos.
Os dias passam e nos vemos reféns dos mesmos dilemas. E quem é que pode se dar ao luxo de ficar por dias parado em um mesmo ponto com essa loucura que é a rotina atual? São tantos problemas a solucionar... Mas nada de desespero! O intuito dessa reportagem não é aumentar o seu assombro, muito pelo contrário.
Temos uma boa notícia: seja ela fruto dos tenebrosos barulhos do trovão ou das incertezas que representam uma mudança de emprego, dá, sim, para vencer a insegurança e, o melhor: tirar proveito dela.
Sensação de incapacidadeCada pessoa representa um universo diferente e, por isso, as situações que causam insegurança também são muito distintas para cada um de nós. "No geral, porém, a insegurança representa uma sensação de incapacidade quanto ao de- sempenho diante de alguma área de nossa vida, seja profissional, afetiva ou social.
O inseguro acredita que não se sairá bem nos papéis que lhe são propostos", diz Lílian Sharovsky, professora do curso de Psicologia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), de São Paulo. Não há regra. O que causa medo em você pode parecer uma grande bobagem para o outro e vice-versa. Isso porque as pessoas possuem personalidades e aptidões próprias para lidar
Xô, medo!Existem situações recorrentes em que a insegurança é presença quase garantida. Separamos algumas dicas preciosas para você iniciar essa reviravolta:
Se você já percebeu que certas circunstâncias o deixam acuado, está na hora de reverter o quadro. Como? Prepare-se para isso: estude mais, se conheça melhor, retome o controle da situação. Não dá para ser pego desprevenido por situações parecidas o tempo todo. E o pior: virar refém delas.
Experimente se martirizar menos e agir mais. Quando estamos assustados, costumamos protelar as decisões o máximo que pudermos. O resultado? O sentimento de insegurança só tende a se prolongar mais e mais. Analise a situação e tome uma atitude. Essa pode ser uma boa solução para espantar a angústia que acompanha a indecisão e a insegurança.
Diminua o ritmo. Sabe aquela história de que, às vezes, menos é mais? Pois ela é muito sábia. Não adianta se comprometer em fazer mil coisas, realizá-las de qualquer jeito e, depois, temer as consequências. Mais qualidade, menos quantidade.
Cobre-se menos. As pessoas vivem uma busca ilusória pela perfeição. Não precisamos disso. Somos humanos, imperfeitos e, assim, podemos sim errar. Ufa! O importante é reconhecer as áreas passíveis de melhoras e trabalhá-las com dedicação.
Aceite seus limites. Não dá para ser excelente em tudo, nem dar conta de todas as demandas impostas, sempre. Quando você tirar essa responsabilidade das suas costas, se sentirá muito mais leve e feliz.com determinados assuntos. A escola é um bom exemplo disso.
Você se lembra de como suava frio enquanto resolvia as questões de matemática e, em contrapartida, respondia com facilidade e até prazer à prova de biologia? (ou vice-versa)A insegurança floresce justamente em áreas que são mais obscuras para nós, aquelas que não dominamos. Aliás, está aí um grande ponto: o desconhecido é, geralmente, o terreno mais fértil para aquela voz que ecoa dentro de nós, dizendo que não vamos conseguir.
Questão que vem de berçoMuitas vezes, o problema tem início na infância, quando dependemos totalmente do outro para suprir nossas necessidades, até mesmo a mais básica delas: a sobrevivência. "A criança precisa crer que o ambiente, que a princípio é representado pela sua mãe, proverá tudo o que ela necessita para sobreviver: alimentação, higiene, cuidados gerais.
É nessa fase que nasce nosso sentimento de confiança", pondera a psicóloga Claudia Stella, docente do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Nesse caso, também não há regras ou unanimidades. Há pessoas que crescem sobre essas condições e, munidas de determinação e coragem, conseguem reverter o quadro desfavorável e tornam-se altamente confiantes. O oposto também acontece.
Sabe aquela história do pequeno que foi cercado de mimos e preocupações e, quando tem de andar com as próprias pernas não sabe o que fazer? "Um ambiente exageradamente facilitador pode impedir a criança de desenvolver suas potencialidades e prejudicar seu desempenho nas fases seguintes", completa Lílian Sharovsky.
O desconhecido é, geralmente, o terreno mais fértil para aquela voz que ecoa dentro de nós, dizendo que não vamos conseguir
Uma faca de dois gumesQuando a segurança oscila, boa parte das pessoas reage da seguinte maneira: com medo de optar pelo caminho errado, permanece paralisada, prorrogando ao máximo a decisão necessária. Isso traz uma série de problemas: cobranças, pressão (própria e dos outros), atrasos e sobrecargas. Mas nem sempre é assim. Existem também aqueles que gostam de viver perigosamente e sentem-se estimulados pela presença da insegurança.
"Esses reconhecem o receio como um desafio para enfrentar e conhecer melhor seus limites. Se bem aplicada, essa visão pode ser proveitosa, pois desenvolve a habilidade de lidar com situações novas e a possibilidade de desenvolver aptidões até então desconhecidas", opina a professora Claudia Stella. Qual dos dois perfis é melhor? A resposta é uma combinação deles. Um se destaca pela cautela, o outro pela proatividade, duas características fundamentais para o sucesso.
Analisando o terrenoEngana-se quem pensa que aquele friozinho no estômago não traz nenhuma mensagem importante. O lado bom da insegurança é que ela nos faz refletir melhor sobre determinado fato e as ferramentas que temos para enfrentá-lo. "Faz bem quem utiliza esse sentimento como sinalizador para se aprimorar em áreas em que se considera despreparada.
Isso torna a pessoa cautelosa e exigente, o que ajuda a obter um resultado mais satisfatório", diz Lílian Sharovsky. Mas calma lá! Nada de confundir aperfeiçoamento com perfeccionismo exagerado. Ninguém que se aventura em uma nova área começa já sabendo tudo. É um processo gradativo, um degrauzinho por vez. Em vez de se cobrar, comemore cada subida e não se zangue por perceber que algo poderia ter saído melhor.
Se analisar a trajetória dos grandes sábios, você vai perceber que eles seguiam a teoria de que quanto mais aprendemos, mais descobrimos o quanto temos a aprender. É o combustível da vida: desvendar o novo, crescer, tornar-se alguém melhor. Deixe-se encantar por isso e logo vai perceber o quanto é reconfortante livrar-se do peso da perfeição que, cá entre nós, é parceira fiel da insegurança e muitas vezes nos impede de vencer, pelo simples medo de fracassar.
Fonte: Revista Vida Natural